3

Vai com Deus...

Posted by Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ Sheila Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ on 9.2.09

Estava euzinha na Livraria Catarinense, dando aquele "rolé" básico para ver as novidades, quando paro ao lado de duas amigas vasculhando avidamente a sessão de auto-ajuda (não, eu não estava bisbilhotando na conversa alheia, mas teria que enfiar um tampão no ouvido se não quisesse escutar).
A "Fulana" estava com a carinha visivelmente abalada, e, a cada segundo agradecia a "Sicrana" por sua companhia, compreensão, por ela ter perdido o almoço para confortá-la, blá, blá, blá. Dizia ainda, que sua fé estava sendo renovada, porque ela não parava mais de rezar. Acreditava piamente que Deus iria "consertar" a situação toda.
A "Sicrana", por sua vez, já devia ter lido tudo quanto é livro do gênero, porque começou engatando Roberto Shinyashiki, passou para Deepak Chopra, arranhou um pouco de Louise Hay, e lascou de chofre Yanla Vanzant (uau, não vi essa chegando, até me assustei). E quando achei que minha nova "ídola" tinha terminado, lá vem pinceladas de Paulo Coelho, pitadinhas de Richard Back, e o fechamento com chave de ouro: a recentíssima Elizabeth Gilbert (tá, tá, pra eu saber associar cada frase que ela falou com o autor, confesso, é porque também li toda a sessão, e o que não li já está na minha lista para adquirir ... lembrete: correr e comprar o livro da tal da Gilbert).

Pelo que pude entender no auge da minha intromissão indireta e silenciosa (a esta altura eu já estava com dor no pescoço) o marido da "Fulana", que vamos chamar de "Bofão" (você já vai entender "o porque"... olha, tô sem saco pra ver se é "o por que", "o por quê", "o porque" ou "o porquê"... se preocupa com o conteúdo e esquece a porcaria da gramática), além de ter caído fora do casamento de 25 anos, já estava todo serelepe desfilando com outra pela cidade (homens!!! &%@@*??^ será que nunca ouviram falar em luto??? pelo amor de Deus, era um casamento de 25 anos, não dava para pelo menos FINGIR tristeza por um período curto de tempo? unf!!!!).
Confesso, a cena pitoresca me chamou a atenção, e, manteiga derretida como sou, já estava toda emocionada (tá, tá, metida como sou só faltou ir lá abraçar a "Fulana" e ainda dar uma colher de chá com palavras da Colette Dowling).
Depois de muitas idas e vindas, e citações brilhantes (olha, até comecei a anotar pra dividir com vocês, mas a "Sicrana" falava muito rápido, eu ainda estava anotando o Richard Back e ela já estava no Paulo Coelho... como é que é? por que não decorei? pára né, ou eu prestava a atenção na conversa ou decorava as tiradas... me poupe!), a "Sicrana" não pode conter um gritinho de felicidade (tive que me segurar pra não pular junto):
- "Fulanaaaanaaaa, está aqui, achei.
Este livro vai mudar a sua vida, vai restabelecer sua fé nos homens, vai colar cada caquinho do seu coração estraçalhado, vai fazer ressurgir a mulher maravilhosa que está escondida embaixo de tanta desilusão. Faço questão de te presentear neste exato momento" (nota: por favor, se alguém disser que eu quase caí na tentativa de me espichar para ver o nome do bendito livro mágico, é pura mentira... caaaaaaapaaaaazzzzzz, nego até a morte! mas, cá entre nós... alguém aí tem uma dica de qual livro pode ser????).
Gente, eu juro, já estava a beira das lágrimas, completamente tocada por aquele momento único perdido no meio do cotidiano, quando a "Fulana" me solta essa pérola:
- "Não tem um livrinho mais fininho?".

(...) (essa pausa significa a travada que o meu cérebro deu no momento... sabe quando você escuta mas não acredita?)
(...) (calma, calma... ainda estou em choque)
(...) (tico ainda está caído, mas o teco dá leves sinais de recuperação)
(... Não... tem um... livrinho mais... hã... fi-ni-nho?) (ô teco, será que foi isso que ela falou mesmo? a gente ouviu errado, só pode ser...)
(fiiii-ni-nhooooo...) (vai tico reage caramba, tá começando a me irritar, sempre eu que carrego você nas costas)

Sabe aqueles dias em que você acorda imbuído de um sentimento divino, e quando as pessoas te jogam limão, você devolve uma limonada deliciosamente adocicada? É como se você transcendesse o momento, a pessoa, o ato em si, e olhasse o outro através das máscaras, enxergando a essência, as cicatrizes, os medos, as limitações, os sonhos e as desilusões que estão levando aquele ser em especial, a tomar uma determinada atitude. E quando isso ocorre, o usual julgamento é substituído por compaixão...
Pois é... pensamento lindo, ma-ra-vil-ho-so, mas, bu-huuuu, que peninha, hoje definitivamente não é um desses dias, meu ser está transbordando sentimento, mas pode ter certeza de que não tem nada de "divino" neles...
NÃO TEM UM LIVRINHO MAIS FININHO? (enfim, tico e teco caíram na real)
&%@@*??^

Incrível como o ser humano pula do céu ao inferno numa fração de segundo. As minhas "quase lágrimas emocionadas" viraram pura indignação
(juro, a minha vontade foi de pegar a dita cuja e dar um safanão... &%@@*??^... fazer ela engolir a coleção inteirinha do Augusto Cury... acrescentar um olho roxo e dar motivo para ela ficar com aquela cara de "cachorrinha pidonha"... &%@@*??^).

Caramba, depois as pessoas se questionam porque Deus as abandonou. Como é que Ele vai ajudar, se a criatura não se dá nem ao trabalho de se esforçar? Se até para melhorar quer pegar o caminho mais curto?
Rezar, por si só, não opera milagres. É preciso ação, resolução, andar, cair, correr, levantar... movimento!
Por acaso você vai se jogar de um avião e esperar que Deus aperte o botão que abre o pára-quedas?
Então você vai largar um carro zerinho com as janelas abertas, sem alarme, com a chave na ignição e o documento no banco, e ficar parado a distância rezando para que ninguém o roube? E Deus que se vire?
Deus, por certo, vai abençoar e reconhecer o esforço que você fez para comprar o carro. Mas, faça o favor de colocar alarme, trancar as portas e cuidar melhor do que é seu. Deus nunca falha... mas, fala sério, deixa de preguiça e faz pelo menos a SUA parte.

Afffffffffffffff... fica aqui o desabafo!
Vai com Deus "Fulana", e que o "Você-Sabe-Quem" te carregue.... afinal, ainda não editaram uma versão da bíblia resumida e fininha, né?
Quer saber? Quem estava realmente precisando de apoio e ajuda era o pobre coitado do "Bofão"... ainda bem que ele saiu dessa fria em tempo!

Obs.: Vocês não tem noção do quanto o meu anjo Ariel está tagarelando aqui do meu lado, dizendo que não devo ficar julgando os outros, blá... blá... blá... Depois que a gente dá uma "livrada" e cai pena de tudo que é lado, é porque somos pupilas malcriadas. E, olha lá Ariel... os meus livros não são nada fininhos... Ô linguarudo teimoso... Bom, não tem jeito. Se vocês encontrarem um anjo da guarda com a asinha meio capenga, não se preocupem: é o meu! Ele apenas sentiu o hálito da minha coleção de livros de auto-ajuda mais de perto...

3 Comments


Oi Sheila!

Passa lá no meu blog, tem um presentinho pra vc!

Bjs!


Sheila, que talento para descrever uma situação pitoresca, só fico triste pela "porcaria da gramática" e, a propósito, nesse caso, "o porquê" (no sentido de razão, motivo), ah, gramática não é tão ruim assim, vai...só aperfeiçoará o que você já faz de bom, não acha? De qualquer modo, meus parabéns, a criatividade e o modo como escreveu este texto superou esse probleminha, ok? Ri muito e concordo contigo: que história é essa de "livrinho"? rsrs...


Uff... que meeedo!!!
.
.....oooO.............
....(....)....Oooo....
.....)../. ...(....)..
.....(_/.......)../...
.............. (_/....
... PASSEI POR .......
.......... AQUI ......
......................

Copyright © 2009 Rasgando o verbo nas entrelinhas... All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive.