1

Casulo

Posted by Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ Sheila Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ on 8.12.08

Há dias em que nos sentimos estrangeiros em nossa própria terra.  É como se uma nuvem negra que aos poucos se formava ao longe, fosse lentamente cobrindo e mudando toda o panorama. Até mesmo o sol que reluzia formoso no céu da nossa existência, se encolheu num canto qualquer, ante a imponência da gélida temperatura que passou a imperar.

E neste novo cenário, o canto dos pássaros se calou, o aroma das flores se perdeu na umidade, os rios tornaram-se traiçoeiros e o silêncio passou a imperar até mesmo em nossos pensamentos. No fundo sabemos que aquele local não mais voltará ao normal e que devemos seguir em frente, em busca de novas paisagens. Porém, um som tímido teima em nos seduzir, incentivando a procurar um esconderijo e ali pousarmos até que tudo enfim se regularize. Só que somos obrigados a nos rendermos diante da realidade que se desnuda a nossa frente, pois até os locais que sempre nos serviram de refúgio se tornaram inóspitos. E descobrimos perplexos que a voz que nos falava  era a covardia, capciosamente travestida de esperança.

Passamos os olhos marejados por toda aquela devastação, buscando em vão ao menos um ponto seguro, e acabamos paralisados numa luta inócua contra a impotência que começa a tecer suas garras sobre nosso coração. Queremos parar só por um instante, um minuto apenas para sentir o velho e conhecido aconchego, mas tudo nos empurra para a frente. Porém, de forma a acelerar o ritmo devemos seguir mais leves, e somos obrigados a largar parte da bagagem que nos acompanhou até então... alguns sonhos de criança... mágoas antigas... ilusões... castelos desfeitos... padrões... Enfim, todas as peças que não mais pertencem a nossa essência, pois perderam ao longo do tempo todo o significado e passaram a apenas ocupar precioso espaço.

E vamos seguindo contrariados, confusos, a passos lentos, perguntando a Deus secretamente porque tanta escuridão. E em resposta, um pequeno sopro de calor invade nosso peito e revitaliza nossa energia vital, e intuitivamente temos a certeza de que novos - e melhores - tempos nos acolherão no momento certo. E, embalados por esse prenúncio nossos olhos buscam de relance outro foco, e encontram ali mesmo naquele ambiente rude, uma lagarta se contorcendo em dolorida e solitária dança para se livrar do casulo e finalmente abrir suas asas coloridas de borboleta.
E ante essa epífane da natureza continuamos a seguir a passos agora um pouco mais confiantes, tendo entretanto, a plena certeza, de que
os pedaços que ficaram para trás, nos tornarão mais inteiros!

1 Comments


Lindo, lindo!!!
Ótimo texto!!!
Bjus

Copyright © 2009 Rasgando o verbo nas entrelinhas... All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive.