Posted by Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ Sheila Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ
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28.8.11
A minha crença na vida após a morte nunca conseguiu aplacar um sentimento tão mundano que me invade de vez em quando: a saudade daqueles que partiram.
Hoje minha avó Cinda faz faria 94 anos de vida. Impossível não lembrar daquele sorriso meigo; da risada contida que balançava todo o corpo parecendo gelatina; do olhar sempre tão dócil; da voz melodiosa e conformada, incapaz de se alterar; do cheirinho de macela que até hoje impregna minhas memórias com aroma de carinho. Difícil esquecer o chocolate "krot" saboreado de forma tão peculiar, melhor nem explicar; a taça de vinho Sinuelo tinto suave tomada religiosamente durante o almoço; o pequeníssimo gole de cachaça digestivo depois de saborear a melância; a salada da tia Mariza furtada que sempre acabava num pedacinho de pão muito antes do almoço como alguém que eu conheço; a tangerina e a laranja descascadas minuciosamente, fibra por fibra; o som da televisão ligada todos os domingos no Silvio Santos como alguém que eu conheço; os cartões de aniversário enviados ano após ano, sempre escritos com a mesma letra pequena e arredondada, quase desenhada. E a afeição transferida para as broinhas de coco; o bolinho de arroz; a gengibirra; as batidas de amendoim e chocolate; o temperinho cortado de forma milimétrica e as cucas cheias de farofa? Sinto o sabor até hoje no paladar da minha alma. E a paciência em tecer o ponto certo nas telas de bordado cheias de nuances e curvas? Emolduram até hoje as paredes da minha existência.
Mulher de finos traços e mãos delicadas, travava suas batalhas em silêncio. Enganou quem a julgava frágil. Sua coragem não fazia alarde. Nunca deixou sua docilidade se curvar a doença. Jamais permitiu que sua fé sucumbisse a dor.
Acredito que não exista barreira intransponível quando se trata de sentimento. Nem mesmo a morte. Por isso, sei que neste exato momento, minha avó está recebendo essas palavras em forma de abraço, e tendo a certeza de que, apesar de ter desaparecido da vista de meus olhos físicos, jamais deixou de habitar o meu coração. Continua vivendo, feliz e saudável, em minhas mais doces lembranças.
Me conforta imaginar que hoje... o céu está em festa.
Feliz aniversário vózinha!
Que Deus lhe conceda mais um sopro de bençãos, e no apagar da vela da saudade, acenda a luz do reencontro espiritual, onde não precisamos enxergar, apenas sentir o pulsar da presença. Que possamos então, saborear em pensamento, através da magia que une dois corações que se importam, um farto pedaço da torta do amor!
Sua neta,
SheilaPS1: Vó, até que ele esteja nos braços do papai e da mamãe, cuida bem do Leonardo, combinado? Junto com a Vó Minda, claro. Aliás, junta uma galera para ajudar... Porque, se ele puxar o pai dele, já deve estar correndo sapeca desembestado pelos campos da espiritualidade, chutando tudo que se parece remotamente com uma bola de futebol. Haja anjo da guarda e "vanish" para dar conta . PS2: Vó, eu escrevi na primeira pessoa. Mas a vó sabe que os folgados caras de pau adoram entrar de gaiato nos meus cartões. Já estou até vendo. Vou contar que enviei o cartão e a primeira pergunta vai ser: "colocou o meu nomeeeeee?" Então, para evitar desgastes desnecessários, considere que eu fiz minhas as palavras e sentimentos de toda a nossa família, certo? PS3: Só mais uma coisa. Se quiser fazer um agrado, pode vir me dar um abraço gostoso que vou adorar sentir sua presença, a qualquer tempo. Agora, não precisa agradecer todo mundo, entendeu? Senão tem gente que vai se borrar toda assustar... muito! (não vou dar nome aos bois ou vacas para não ficar feio né, vó. Não sou fofoqueira.) Assim... se a vó estiver na dúvida, sai fazendo "buuuuuu" para todos na família... aquela pessoa que sair disparada berrando, é a própria. Bom, pensando bem... acho que vai ser mais de uma pessoa correndo... Não esquece de me contar depois. Em sonho, viu vó? Também não vamos exagerar nas demonstrações explícitas de carinho entre o mundo espiritual e o terreno, ok? Neste aspecto não sou nem um pouquinho parecida com São Tomé.PS4: Hãaa... vó? Além da torta do amor, rola uns brigadeiros de afeto? Quê? Nãooooooo... não precisa ser para a família toda. Dividir o cartão tudo bem. Agora, repartir os brigadeiros? Aí já é abuso né vó? Eles são meus. Só meus!