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Exílio

Posted by Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ Sheila Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ on 9.9.10


De tempos em tempos ela se exila nas memórias
E se deixa levar pelos devaneios de um passado
que inspira ausência
e expira saudade
Visita abraços
Rememora sentidos
Reverencia emoções
Embriaga sua alma com o silêncio cadenciado de seu coração
Sorri matreira com os momentos que brincam soltos nos recônditos de seu ser
E que apesar de traduzidos em palavras
E compartilhados em parcas confidências
Em essência são só seus
Mergulha de cabeça no sentimento esquecido
E volta à superfície plana do presente
Escorrendo nostalgia
Reconhecendo a importância de cada instante
E se regozijando na lembrança dos amores que ainda a habitam
São eles que,
mesmo despedaçados pelo tempo,
a tornam inteira...



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Lembranças...

Posted by Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ Sheila Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ on 30.7.10


Sabia que as palavras continuavam a jorrar dos lábios da sua melhor amiga, mas, a partir de certo momento, seus ouvidos se fecharam. Inventou uma desculpa esfarrapada demais para o seu padrão boa moça, e desligou lentamente o telefone, numa débil tentativa de cortar a conexão com a realidade.

Já presenciara vários de seus amigos se separarem e reconstruirem a vida com outra pessoa. Assim, no momento em que seu relacionamento de doze anos virara cinza, sabia de antemão que teria que aprender a viver em um mundo onde seu homem "
ex" estaria encontrando calor em braços que não eram os seus. Só permitia que essa divagação tomasse forma no consultório de sua psicóloga. Lá se sentia segura o bastante para extravasar sua dor confusão.

A separação não a tornou uma pessoa amarga, muito pelo contrário. Vivia rodeada de amigos e seu riso espontâneo era contagiante. Mas, era obrigada a confessar, amizade era a única coisa que conseguia oferecer. Qualquer tentativa de ultrapassar esse limite era repelido com firmeza. Continuava uma romântica incorrigível, mas exercitava essa fraqueza qualidade através de uma fome voraz por filmes. Mas, só aqueles onde o final feliz era garantido. Na verdade, sequer imaginava que rumo daria à sua existência. Somente uma certeza a acompanhava nos últimos tempos: ainda não estava pronta!

Nunca havia casado de véu e grinalda como as modelos das incontáveis revistas que mantinha escondidas em casa. Nem adentrado na igreja segurando um buquê de rosas brancas como costumava ensaiar desde a mais tenra idade. Também nunca sentiu o incômodo delicioso de uma aliança apertando enlaçando seu dedo anelar. Não havia fotos apaixonadas espalhadas pela casa, cartões escritos no ápice da paixão ou filhos. Se apaixonara por um homem extremamente prático, avesso a amarras e convenções, e em nome deste amor abrira mão de grande parte de seu lado poético. Apesar de não ter deixado vestígios palpáveis no apartamento que então dividiam, seu romance estava gravado a ferro e fogo em sua memória. Nunca se arrependera das concessões que fizera para manter a união.

Até aquele momento...

Quando caiu em si já estava na estrada. Apesar de todos os seus alarmes soarem a pleno vapor, precisava confrontar a realidade antes que a fantasia lhe consumisse. Conhecia o local com a palma da mão e a medida que o carro ganhava velocidade, mais e mais imagens pululavam em sua mente. O sítio de seus sogros estava ainda mais belo do que se lembrava. Entrou por uma passagem secundária, e se posicionou no alto do morro, em cima de uma pedra divinamente escondida atrás de arbustos e árvores (
seu cantinho preferido no mundo). Dali tinha uma visão perfeita da parte mais bela da propriedade.

Seu coração deu um salto quando viu o primeiro (e único) amor de sua vida adentrar na capela improvisada, todo orgulhoso e elegante (como nunca havia visto antes). Ao se posicionar no altar, ele sorria e apertava as próprias mãos com seu jeito peculiar. Reconhecia aquele raríssimo gesto de longe. Ele estava ligeiramente nervoso... e feliz!

Ficou hipnotizada com a beleza simples da noiva e acompanhou cada passo, como se fossem seus próprios. Mas foi quando ele seguiu ao encontro dela com os olhos marejados e se ajoelhou para beijar-lhe a barriga já saliente, que alguma coisa quebrou dentro de seu coração. Chegou mesmo a sentir a fúria dos caquinhos dilacerando seu âmago. 

Estava assistindo o casamento dos seus sonhos, só que outra atriz corria para os braços de sua alma gêmea, carregando no ventre uma semente que sempre ansiou fazer germinar em seu próprio útero. Lágrimas grossas rolavam pelo seu rosto, enquanto assistia petrificada outra mulher caminhando de mãos dadas com seu passado, ostentando um futuro que ela jamais teria oportunidade de experimentar, e exibindo na face a conquista que ela própria perseguiu em vão por estéreis longos doze anos. A pouca racionalidade que lhe mantinha sã tentava assumir o controle a todo custo, e carregá-la para o mais longe possível daquela cena perfeita. Queria fazê-la enxergar que ela não era a personagem principal daquela história. Era apenas uma figurante que entrou sorrateira nos bastidores, mas ficou e ficará para sempre, fora daquele palco, longe dos aplausos.

Não sabe quanto tempo ficou sentada naquela pedra, nem como chegou em casa. Tomou um longo banho, vestiu o pijama que outrora foi dele e foi para a cama. Sua mente tentava se encontrar no meio do turbilhão emocional que a sacudia. Teria que reaprender a viver, construir novos sonhos,
rever posturas, abrir seu coração para outras paisagens, intensificar a terapia, fazer um curso de dança (aquele mesmo que ela vivia adiando). Sim, sabia que teria que começar do zero novamente, despida de expectativas e falsas esperanças.

Mas, essa página em branco seria aberta somente no dia seguinte. Naquela noite em particular, ela iria visitar o passado, resgatar memórias, juras, sinais da existência do homem que um dia a tornou mulher... Abriria o livro de suas emoções sem medo e viajaria pelas fotografias mentais que emolduraram e coloriram as paredes de sua alma por tantos anos.

Porque alguns amores,
só sobrevivem nas lembranças...


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Maquilagem borrada...

Posted by Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ Sheila Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ on 25.7.10


Não era a primeira vez que acordava sobressaltada.
Entretanto, ao invés de virar para o lado e resgatar o sono
(como sempre fazia),
ousou levantar.
Foi à cozinha, preparou um chá aromático, sentou no sofá da sala,
e encarou o gélido silêncio embrulhada em pensamentos.
Não ousou acender a luz.
Certas verdades ficam mais palatáveis no escuro.
Percorreu os corredores de seu coração e
decidiu não ignorar as portas fechadas.
Abriu-as.
Uma a uma.
E por elas fluíram emoções há muito represadas.
Algumas, amigas de longa data, finalmente mostraram sua verdadeira cara.
Outras, apesar de totalmente desconhecidas à sua mente,
demonstraram familiaridade com seus segredos mais profundos.
O impacto causou-lhe náuseas.
Daquelas que não são aliviadas por medicamentos vendidos em farmácia.
Vagava zonza pelos sentimentos a procura de algum resquício de sua alma.
Agarrou-se a alguns pedaços partidos
do que outrora fora sua essência mais pura,
como se fossem tábuas mágicas de salvação.
E foi justamente o receio de se afogar em tanta comoção que a deixou a deriva.
Quando o cansaço se tornou maior que seu medo,
entregou-se ao momento com toda a sua fraqueza força...
Perdeu a noção do tempo, do espaço, e jogou-se de cabeça no abismo de sua angústia.
E quando finalmente emergiu do turbilhão emocional instaurado no seu âmago,
já era hora de levantar.
Mais um dia aguardava por sua presença.
Mais tarefas precisavam de sua atenção.
Mais um capítulo de sua história estava prestes a ganhar corpo.
Guardou nas entrelinhas seus conflitos e ganhou as ruas da cidade,
estampando seu forçado melhor sorriso.
Sua máscara profissional não admitia maquilagem borrada.
E cada suspiro sorrateiro que escapava inconscientemente de sua boca,
carregava a dor do mundo...


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A voz do silêncio

Posted by Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ Sheila Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ on 26.4.10

Habituara-se a ouvir a voz rouca de seu coração
No silêncio da
madrugada
Talvez porque no decorrer do dia
Sua mente estivesse
entretida com os sons de suas máscaras...

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Sonata da madrugada

Posted by Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ Sheila Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ on 22.2.10
Soundtrack: 5th Symphony - Beethoven




Acordou sobressaltada com o som do telefone. Antes mesmo de recobrar a consciência sabia quem estava do outro lado da linha. Seu coração ouvia o som abafado das lágrimas, as promessas, os pedidos reiterados de perdão que emanavam do vazio daquela madrugada chuvosa. Encolheu-se na cama e esperou que o silêncio voltasse a reinar em seu universo particular. Depois de muita insistência o telefone calou.
Levantou-se da cama lentamente, e vagou pelo apartamento escuro. Não se importava com topadas ou tropeços. Precisava da penumbra para poder enxergar. Sentou no sofá da sala e desabou. Chorou por todos os sonhos que não suportaram o peso da vida real. Soluçou pelas expectativas jogadas no lixo. Lamentou pelas perdas e feridas ainda tão abertas. Chorou pela mulher que era e que deixou de existir no exato minuto em que ele batera a porta de suas vidas na sua cara. Sentiu a mão fria da solidão envolvê-la num abraço letal.
Ao som da sinfonia número 40 de Mozart viu sua vida passar na mente como num filme, ficando ela própria como expectadora. Mozart parecia entender seu sofrimento e dedilhava sentimentos que ela mesma não compreendia. E de olhos fechados deixou-se levar pelas notas que ecoavam em seu mundo e abriam as janelas da autocomiseração.
Mas foi Beethoven quem liberou sua raiva. Enquanto a sinfonia número 5 vibrava no ar, ela abriu as comportas de sua alma. E deixou todos os seus fantasmas brincarem soltos pelos corredores de seu ser. Reconheceu cada emoção, desde o desespero até a ira. Pegou uma a uma pela mão, embalou-a, abraçou-a e por fim, levou-a até a porta escancarada de seu coração. E assim, sem qualquer pudor, dançou ao som de sua verdade, acolhendo até mesmo seu lado negro sem qualquer maquiagem.
E quando Beethoven rasgou o último sopro deixou-se cair exausta no chão.
Fora até o abismo de si mesma e voltara quebrada, mas totalmente revigorada.
Não haveria mais sobressaltos ao toque do telefone, nem arrependimentos, nem culpa, nem retornos, nem solidão.
Estava pronta para (re)viver!

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Sentimento indomável

Posted by Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ Sheila Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ on 21.2.10


Sentimento é como um cavalo selvagem
Quanto mais tentamos domesticá-lo,
mais exaltamos sua rebeldia
A única pastagem onde ele se deixa capturar,
E por breves momentos revela sua face,
Repousa no fundo dos meus olhos...

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Explosão

Posted by Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ Sheila Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ on 18.2.10


Sentia uma vontade visceral de ficar sozinha
Mas quando escutava o eco da solidão bradando em seu pensamento,
ansiava pelo alento da companhia,
pelo calor de outro corpo
Lutava contra as lágrimas,
mas não encontrava razão para trancafiar tanto sentir,
nem deixar jorrar tamanha emoção
Nadava contra a corrente de sentimentos contraditórios com uma fúria voraz,
mas a vontade que batia forte em seu coração era o da entrega
Estava cansada das vozes familiares que ecoavam em suas entranhas,
mas os novos sons que invadiam sua alma a assustavam
Sentia a vida pulsar em suas veias,
e chamar o seu nome
Fugia de si com a esperança de encontrar-se vagando
pelos caminhos que sua covardia a impedia de seguir
E perdida no meio dessa explosão hormonal
Ela renascia...
mais uma vez!

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