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O clube de leitura...

Posted by Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ Sheila Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ on 30.1.09

Acabei de assistir o envolvente filme "O clube de leitura de Jane Austen" ("The Jane Austen book club"). A história não poderia ser mais singela: por seis meses, seis pessoas (cinco mulheres e um homem), se reúnem uma vez por mês para discutir as clássicas histórias da romancista britânica Jane Austen, que muitos consideram uma das figuras literárias mais importantes da Inglaterra depois de Shakespeare.

Confesso, o filme é despretensioso. Mas, para uma pessoa como eu, que adora histórias tiradas do cotidiano, carregadas de dramas da vida real é um prato cheio. O pano de fundo poderia ser vivido por qualquer um... e é justamente isso que me atrai.
 
É delicioso acompanhar as personagens principais se desnudando nas entrelinhas da análise dos livros mais famosos de Jane, muitos dos quais viraram filmes ("Persuasão", "Razão e Sensibilidade", "Orgulho e Preconceito", "Emma"). Por óbvio, cada qual analisa o romance em pauta sob a ótica de sua próprio vida, seus próprios sonhos e fracassos.
Contagia presenciar o amor nascendo aos poucos, sem pressa, cada qual dançando
em ritmo próprio, ao som dos mais variados sentimentos. E quando finalmente o casal acerta o passo, e acontece o tão esperado beijo, você vibra junto, não pelo aspecto sexual da cena, mas porque ele simboliza o coroamento de uma espera sadia. E aquele beijo desejado fala mais do que mil palavras... é o momento em que a boca, o coração e a alma finalmente se alinham. Numa época de amores enlatados, com prazo de validade, essa raridade acaba encantando.

É curioso observar que os personagens mais travados, que se guardam a sete chaves, que morrem de medo de se apaixonar, de se envolver, de mostrar a própria agressividade, acabam encontrando conforto nos encontros, e desabafam por via indireta, através de comentários cheios de perspicácia acerca do romance do mês, misturados, é claro, com uma boa dose de realidade e sentimentos represados. Os debates na verdade, são uma forma de terapia em grupo perfeitamente segura, porque no final das contas, ninguém se revela por inteiro, cada qual se esconde atrás da narrativa fictícia do mês.

Nunca a ficção adquiriu contornos tão reais. O filme demonstra como o medo cria entulho. E revela que esse lixo que deveria nos proteger, também nos impede de viver e de interagir com o mundo de sentimentos que está aí latente, esperando não apenas pelo nosso toque, mas, principalmente... pela nossa atenção.
Viajando pela vida dos personagens, é possível observar que os maiores abismos são criados justamente entre as pessoas que mais se conhecem e se amam.... aquelas que estão há tanto tempo do nosso lado que nem mais as enxergamos. Na era da tecnologia e facilidades, se algo quebra, a maioria  das pessoas simplesmente joga fora e compra outro melhor e mais moderno. Ninguém mais quer perder tempo consertando. Infelizmente, essa impaciência e imaturidade, passou também para a área dos relacionamentos: se o outro não é perfeito... se ele erra... se não é exatamente do jeito que sonhamos um dia...  melhor trocar logo, partir para outra (ou outras)... para que perder tempo? Os seres humanos estão se tornando descartáveis.

Por sua vez, a traição, um dos fantasmas que assola os relacionamentos modernos, é tratada com uma candura cruel. A história é clássica. A mulher ama o marido. O marido ama a mulher. Mas, cada um se arrasta pela vida isolado em seu próprio universo de carência, incapazes de estender a mão para o outro. Até que um cede as tentações do mundo, e resolve procurar emoções que sejam capazes de suprir o vazio que congelou todos os sentidos. A sequência de cenas que demonstra que antes da consumação da traição há um minuto de consciência, em que é possível decidir se vale mesmo a pena seguir em frente e arriscar, é de tirar o fôlego. Afinal, por quanto tempo a aventura vai conseguir soprepujar a realidade?   

Os diálogos do filme são inteligentes, dúbios, simples
e ao mesmo tempo carregados de uma complexidade peculiar.
Porque, afinal de contas, relacionamentos são complicados. Sejam eles entre um homem e uma mulher; uma mulher e outra mulher; pais e filhos; amigos; amantes. A medida que a convivência avança, corações são quebrados; a confiança é partida; elos são desfeitos; defeitos são exaltados; dúvidas são plantadas. Mas, por outro lado, uma explosão de emoções lapida com cores a vida de cada um ; sentimentos lavam a alma; corpos se abraçam; dores são compartilhadas; alegria são multiplicadas; lembranças são criadas e laços são restabelecidos.

E no final não apenas do filme, mas da própria história de nossas vidas, pouco antes de começar a passar os créditos, a gente desvenda o grande enigma, e descobre que o grande mal da humanidade... que o que todo mundo no fundo quer... é ser valorizado... é ser cuidado... é ser amado. Porque é isso que movimenta a roda viva da existência... e faz tudo valer a pena!



O Clube De Leitura De Jane Austen (Trailer) - LEGENDADO

2 Comments


Que bom ver textos novos, depois de alguns dias colocando minha vida em ordem (+ou- em ordem é verdade...mais pra - aliás...)...entrar no blog e ver textos novos é ótimo!!!
gostei de uma resolução de ano novo:
[ ] Quero voltar ao convívio dos amigos que fazem parte das minhas orações, tirando-os da lembrança e reintegrando-os à minha realidade.


Beijos...


Obrigado por Blog intiresny

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