Crônica de um final feliz
Acabei (re)encontrando esse texto que escrevi em agosto de 1999, e que agora compartilho. É o lado bom da nostalgia...
E, o que me deixou muito feliz, é que depois de uma década, apesar de todos os percalços, de todas as reviravoltas que ocorreram na minha vida, das cicatrizes, de ter mudado de cidade e de profissão, dos cabelos brancos que já dão os ares da graça... eu CONTINUO acreditando!
Na primeira vez que assisti o filme Cidade dos Anjos, somente não chorei mais no cinema para não passar vergonha. Quando assisti novamente, desta vez em casa e longe dos olhares dos cinéfilos, pude deixar fluir todo o meu estoque de lágrimas, chegando facilmente aos soluços copiosos. Me lembro perfeitamente de ter ficado indignada com o final do filme. Ora, eu queria um final feliz, nada mais justo, com direito a casamento, juras de amor e um casal de filhinhos (parecidos com o Nicolas, claro). Todas as pessoas que então cruzaram meu caminho, e com as quais compartilhei minha indignação, basicamente me responderam de forma uníssona, que não podia haver outro final, senão seria muita água com açúcar, ou seja, o filme seria fantasioso demais (como se um anjo com a cara... o corpo.... e tudo mais do Nicolas Cage se jogando de um prédio e aparecendo todo carente pedindo cuidados fosse uma cena muito comum..... ora, o meu anjo da guarda, do jeito que dou trabalho, não pularia nem de um tijolo por mim :-) - (brincadeirinha viu Ariel meu amigo).
Pois bem, hoje li na revista Seleções, a história de Megan, uma jovem de 14 anos, ativa, simpática, com um rosto angelical e um dom magnífico: ela era um super cupido. Quando colocava os olhos em duas pessoas, ela via algo mais, e no final, as pessoas, antes estranhas, se tornavam amores eternos. Os amigos e parentes afirmaram que Megan nunca errava; e principalmente, seu lema era: nunca desistir!!! Pois bem, encurtando drasticamente a matéria, Megan estava esquiando com amigos, quando ao parar na subida de uma montanha, começou a deslizar para trás, e ante a pergunta entre gargalhadas "que eu faço pessoal", acabou caindo de um desfiladeiro e desencarnando. Os pais resolveram doar os órgãos de Megan. Um dos órgãos foi para Brian; o outro para Susan. Dois desconhecidos até então, de cidades distantes, com um único ponto em comum: ambos estavam a beira da morte e foram salvos por um pedacinho de Megan. Os dois voltaram a se encontrar num congresso sobre doações de órgãos. De lá passaram a ser amigos; hoje são noivos, com casamento marcado e distribuindo felicidade. E os pais de Megan, ao verem ambos pela primeira vez juntos, entre lágrimas juraram que sentiram a presença da filha, com seu sorriso singelo a dizer: "Viu mãe! Eu sabia! É só não desistir!". Se esta história fosse um filme, a maioria das pessoas a achariam água com açúcar. Fantasiosa demais. Mas esta é uma história verídica, como tantas outras que nos passam despercebidas.
Se eu dirigisse o filme Cidade dos Anjos, ambos morreriam velhinhos, abraçadinhos, trocando juras eternas de amor, naquela mesma praia em que os anjos se encontravam para ouvir o pôr do sol. O coração de seus corpos simplesmente parariam de pulsar. Mas o coração de suas almas, pulsariam eternamente.
Podem me chamar de sonhadora. Mas eu prefiro acreditar. Quando era criança, acreditei em Papai Noel e coelhinho da Páscoa. E com certeza fui muito feliz. Hoje, um pouco "maiorzinha", acredito em anjos, duendes e finais felizes.
E na próxima vez que assistir ao filme Cidade dos Anjos, vou parar a fita na cena em que ambos estão juntos, abraçados, curtindo aquela paisagem bucólica, sentindo a presença um do outro, comungando com Deus e a natureza, entrelaçados de corpo e alma. Porque eu acredito que isto possa acontecer. Pessimistas de plantão me desculpem. Afinal, a probabilidade de um final feliz é tão grande quanto o fato de a Meg Ryan morrer ao bater de "bicicleta" numa "Scania" no "meio do nada". Me poupem. Se isto é aceitável, por que os dois serem felizes é utopia? Por que será que o ser humano tende sempre a acreditar com mais facilidade na pior hipótese? Talvez por medo de sofrer, pois afinal se você sempre esperar o pior, o que vier é lucro. Pois eu lhes digo de carteirinha: quem espera sempre o pior, quando o melhor acontece, não sabe nem o que fazer! E deixa, então, a alegria escapar pelos dedos....