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Crônica de um final feliz

Posted by Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ Sheila Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ on 22.1.09
Meu querido amigo Sérgio deixou um comentário no post anterior e foi impossível não lembrar dos velhos tempos em Joinva City. Minha época de paixão pelo cinema (bom, isso continua, só ando mais selectiva - leia-se chata -), FO´s, dataflex (eca!), bites e bytes. Como sempre acontece quando bate a saudade, a gente vai fuçando aqui e ali em busca de vestígios daquela época que sempre nos traz contentamento quando revivada na memória.
Acabei (re)encontrando esse texto que escrevi em agosto de 1999, e que agora compartilho. É o lado bom da nostalgia...
E, o que me deixou muito feliz, é que
depois de uma década, apesar de todos os percalços, de todas as reviravoltas que ocorreram na minha vida, das cicatrizes, de ter mudado de cidade e de profissão, dos cabelos brancos que já dão os ares da graça... eu CONTINUO acreditando!


Crônica de um final feliz.

Hoje ao ler uma matéria sobre a vida de uma garota de 14 anos, pude finalmente encontrar subsídios para defender a minha então "tese" de um final feliz.
Na primeira vez que assisti o filme Cidade dos Anjos, somente não chorei mais no cinema para não passar vergonha. Quando assisti novamente, desta vez em casa e longe dos olhares dos cinéfilos, pude deixar fluir todo o meu estoque de lágrimas, chegando facilmente aos soluços copiosos. Me lembro perfeitamente de ter ficado indignada com o final do filme. Ora, eu queria um final feliz, nada mais justo, com direito a casamento, juras de amor e um casal de filhinhos (parecidos com o Nicolas, claro). Todas as pessoas que então cruzaram meu caminho, e com as quais compartilhei minha indignação, basicamente me responderam de forma uníssona, que não podia haver outro final, senão seria muita água com açúcar, ou seja, o filme seria fantasioso demais (como se um anjo com a cara... o corpo.... e tudo mais do Nicolas Cage se jogando de um prédio e aparecendo todo carente pedindo cuidados fosse uma cena muito comum..... ora, o meu anjo da guarda, do jeito que dou trabalho, não pularia nem de um tijolo por mim :-) - (brincadeirinha viu Ariel meu amigo).

Pois bem, hoje li na
revista Seleções, a história de Megan, uma jovem de 14 anos, ativa, simpática, com um rosto angelical e um dom magnífico: ela era um super cupido. Quando colocava os olhos em duas pessoas, ela via algo mais, e no final, as pessoas, antes estranhas, se tornavam amores eternos. Os amigos e parentes afirmaram que Megan nunca errava; e principalmente, seu lema era: nunca desistir!!! Pois bem, encurtando drasticamente a matéria, Megan estava esquiando com amigos, quando ao parar na subida de uma montanha, começou a deslizar para trás, e ante a pergunta entre gargalhadas "que eu faço pessoal", acabou caindo de um desfiladeiro e desencarnando. Os pais resolveram doar os órgãos de Megan. Um dos órgãos foi para Brian; o outro para Susan. Dois desconhecidos até então, de cidades distantes, com um único ponto em comum: ambos estavam a beira da morte e foram salvos por um pedacinho de Megan. Os dois voltaram a se encontrar num congresso sobre doações de órgãos. De lá passaram a ser amigos; hoje são noivos, com casamento marcado e distribuindo felicidade. E os pais de Megan, ao verem ambos pela primeira vez juntos, entre lágrimas juraram que sentiram a presença da filha, com seu sorriso singelo a dizer: "Viu mãe! Eu sabia! É só não desistir!". Se esta história fosse um filme, a maioria das pessoas a achariam água com açúcar. Fantasiosa demais. Mas esta é uma história verídica, como tantas outras que nos passam despercebidas.

Se eu dirigisse o filme Cidade dos Anjos, ambos morreriam velhinhos, abraçadinhos, trocando juras eternas de amor, naquela mesma praia em que os anjos se encontravam para ouvir o pôr do sol. O coração de seus corpos simplesmente parariam de pulsar. Mas o coração de suas almas, pulsariam eternamente.

Podem me chamar de sonhadora. Mas eu prefiro acreditar. Quando era criança, acreditei em Papai Noel e coelhinho da Páscoa. E com certeza fui muito feliz. Hoje, um pouco "maiorzinha", acredito em anjos, duendes e finais felizes.

E na próxima vez que assistir ao filme Cidade dos Anjos, vou parar a fita na cena em que ambos estão juntos, abraçados, curtindo aquela paisagem bucólica, sentindo a presença um do outro, comungando com Deus e a natureza, entrelaçados de corpo e alma. Porque eu acredito que isto possa acontecer. Pessimistas de plantão me desculpem. Afinal, a probabilidade de um final feliz é tão grande quanto o fato de a Meg Ryan morrer ao bater de "bicicleta" numa "Scania" no "meio do nada". Me poupem. Se isto é aceitável, por que os dois serem felizes é utopia? Por que será que o ser humano tende sempre a acreditar com mais facilidade na pior hipótese? Talvez por medo de sofrer, pois afinal se você sempre esperar o pior, o que vier é lucro. Pois eu lhes digo de carteirinha: quem espera sempre o pior, quando o melhor acontece, não sabe nem o que fazer! E deixa, então, a alegria escapar pelos dedos....

4 Comments


Oiii
Obrigada pela visita lá no meu espaço!!!
Que bom que está gostando dos textos que coloco lá, eles são escolhidos a dedo!!!
Ler os seus textos, escritos por você, é um prazer, escreves muito bem, deveria publicar um livro, sério mesmo!!!
Crônicas de Yada... Yada... Yada...
Bjus
Janini


Mandei o primeiro comentário mas só depois li este post "crônica de um final feliz".
...Maravilhosa!!!
Concordo com tudo que escreveu e também não gostei do final do filme, depois de tudo o que eles passaram, ela morrer, é injusto!!!
O final da sua crônica foi ótima!

"Pessimistas de plantão me desculpem. Afinal, a probabilidade de um final feliz é tão grande quanto o fato de a Meg Rian morrer ao bater de "bicicleta" numa "Scânia" no "meio do nada". Me poupem. Se isto é aceitável, por que os dois serem felizes é utopia? Por que será que o ser humano tende sempre a acreditar com mais facilidade na pior hipótese? Talvez por medo de sofrer, pois afinal se você sempre esperar o pior, o que vier é lucro. Pois eu lhes digo de cadeirinha: quem espera sempre o pior, quando o melhor acontece, não sabe nem o que fazer! E deixa, então, a alegria escapar pelos dedos...."

Vou concerteza tirar proveito dessas suas palavras do "gran finale", para assim poder melhorar esse lado pessimista que alimento dentro de mim.
...E, como te disse, escolho a dedo os textos, mensagens e crônicas que coloco lá, se me autorizar gostaria de postar está sua crônica no meu espaço!!!
Bjus
Janini


Tu sabe, este texto me acompanha há 10 anos, já li, reli, já recomendei para pessoas que eu indicava o filme, já passei para pessoas que eu queria que aprendessem a acreditar que a vida pode ser bela sem ser um filme.

um beijão,

Sergio - http://stephenwolf.blogspot.com


Adorei seu blog.
Escreves divinamente... passeei pelas palavras.... delícia !

Quando der visite meu blog também :

http://eucaliptosnajanela.blogspot.com

Beijo !
Solange Maia

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