Simplesmente amor
Entretanto, nossa efêmera (melhor dizer "eterna", porque vai demorar para criarmos asinhas. Já chifrinhos...) condição de meros seres humanos em lento processo de evolução, não raras vezes nos dá uma bela rasteira.
E a gente cai, desaba, se amontoa. E choramos, chutamos, esbravejamos, amaldiçoamos tudo que respira. E nos sentimos solitários, abandonados, incompreendidos. Completamente desprotegidos, ficamos a mercê do pessimismo, má-sorte, lamentações. Desacostumados que estamos com os sentimentos verdadeiros, tropeçamos na nossa inabilidade em pedir colo, abraço, beijo, afeto... qualquer tipo de ajuda que nos devolva o brilho nos olhos. Enfim, o lado negro da força emerge e não tem jedi que faça ele voltar para suas origens. E quando achamos que não há mais lugar para descer, cavamos mais um pouquinho, e damos de cara com o Darth Vader pronto para nos converter (sei lá porque estou com o Jornada, ops, Guerra nas Estrelas na cabeça, acho que vi uma propaganda ontem... e, quer saber, me poupe, esse não é o tema central do texto, coisa chata ter que explicar tudo).
Assim, quando a Louise Hay apanha do Osama Bin Laden, e o Bush aniquila o Deepak Chopra, bem, não resta outra alternativa, tenho que apelar também: arregaço as mangas, abro o armário e saco a minha ultra arma secreta: o filme "Love Actually" (no Brasil traduzido para "Simplesmente Amor").
Confesso, esse filme é o meu último recurso. Quando tudo mais falhou e estou prestes a cair nas garras da desesperança, paro bruscamente, pego uma caixa de lenço e corro para os braços dele (não, não é o Hugh Grant, o Rodrigo Santoro e o Colin Firth que me animam... acreditem, se estou apelando para esse filme, o meu estado está tão deplorável que nem o Clooney peladão arrancaria maior reação).
Nem preciso dizer que já me acabo em lágrimas na primeira cena (é sim, a cena de abertura que fala dos abraços nos aeroportos). Na verdade, nem sei direito o que me toca. Acho que é um conjunto de fatores: a singeleza da mensagem... a naturalidade com que o filme trata de assuntos tão profundos... a humanidade com que enfrenta os dissabores da vida, como a morte, a traição, o desengano, a amizade, o desejo, a perda... a vulnerabilidade mostrada como sinônimo de força e não fraqueza... tudo isso aliado a uma trilha sonora de tirar o fôlego (sim, tenho o cd também... não, só o cd não me anima, aliás, só o cd me deixa com dor de cotovelo... ei, eu nunca disse que era uma pessoa simples de se entender... deixa isso para minha psicóloga).
Esse filme sempre restaura a minha crença na raça humana...
Me faz acreditar que o homem é muito mais do que esse ser vil que mata, estupra, rouba, mente, joga crianças pela janela como se fosse um saco de batatas. Ele também é uma criatura dotada de extrema bondade, autor de atos de abnegação que não saem estampados nas capas dos jornais, capaz de emoções que por si só são um milagre.
Me devolve a magia que a guerra detonou.
Preenche o vazio que a decepção criou.
Me eleva para mais pertinho de Deus.
Cada lágrima que derramo é um bálsamo, que vai cicatrizando aos pouquinhos as feridas que o excesso de realidade acaba abrindo, o cotidiano cutuca e a falta de cuidado expõe.
Por isso, se você chegar lá em casa e me encontrar no sofá com os olhos vidrados neste filme, senta ao meu lado, respira fundo e permita que o seu coração embarque com o meu numa viagem de volta à emoção, esperança e alegria de viver (se não quiser viajar, "xispa" ou põe um colete salva-vidas, porque, acredite quando eu digo: você vai se afogar nas minhas lágrimas).
Não importa se alguém lhe machucou um dia; se a esperança lhe foi arrancada do peito com requintes de crueldade; se você tem vontade de tentar a vida em outro planeta menos agressivo... porque, mais cedo ou mais tarde, você vai se render as evidências (Deus é persistente, não vai desistir de você) e descobrir que "o amor simplesmente está em toda a parte"!
“Sempre que me entristeço com o mundo, penso nos portões de chegada dos aeroportos. Dizem que vivemos num mundo de ódio e ambição, mas eu não acho. Sinto que há amor em todo lugar. Nem sempre algo que valha alguma manchete, mas está sempre ali. Pais e filhos, mães e filhas, maridos e mulheres, namorados, namoradas, amigos antigos. No atentado às Torres Gêmeas, os recados de quem estava nos aviões não foram de raiva. Eram todas mensagens de amor. Se procurar, creio que descobrirá que o amor simplesmente está em toda parte.” (texto de abertura do filme).
Simplesmente Amor - Trailer