Chover ou não chover
Sem sombra de dúvida, quando me mudei de mala e cuia para Florianópolis, esse detalhe não passou despercebido: a ilha da magia é o oposto, reluz como ouro, é puro sol. Ahhhh que ma-ra-vi-lha! Acordava pela manhã, e lá estava ele: o sol. Hummmmm, ia almoçar, e quem estava a me espreitar pelo calçadão, lindo, imponente, todo luz? O soooolllllll... uhuuuuuu! Fim de tarde, indo para casa, perdida em pensamentos sobre a ponte, curtindo aquele marzão azul, quem me fitava no horizonte? Quem? Quem? Soooooollllzãaaaooooo, se preparando para dormir e explodindo num espetáculo de cores. A noite (não gracinha, o sol não aparecia... dãaaaaa), aquela lua escancarada refletindo no mar... estrelas brilhantes cintilando... tudo contribuia para embalar os sonhos e devaneios dos meros mortais.
Final de semana? Praia e, claro, muito soooollllll... yessssss!!!!! Isso é que era vida, Floripa realmente fazia jus ao seu hino... um pedacinho de terra perdido no mar (e escoltada pelo sol por todos os lados).
E assim foram passando as horas iluminadas... os dias ensolarados... os meses brilhantes... os anos ofuscantes... e... GENTE! Peraí um pouquinho: pelo amor de Deus, assim não dá, é muita luz, nem sou tão iluminada assim, hellooooooo São Pedro esqueceu de mim, larga Joinville um pouco e trás o pinico pra cá. Credo, será que não chove nesta terra? Tá louco, e eu lá sou lagarto para gostar de tanto sol? Minha pele já está ficando com ares daquela técnica que a minha mãe usa no artesanato dela: craquelê.
Verdade seja dita, chover até chovia... mas, ao estilo ilha da magia: mal o pingo chegava na calçada, já batia o tal do "vento sul" (unf, aquele ¶¢£©§¥º¿ØÐÒÒ) e levava as nuvens negras, carregadas e lindaaaaassss embora. Juro, não chegava nem a dar cheirinho de terra molhada. Eu já tinha em casa o kit chuva: deixava livro, cobertor, chocolate, chinelo macio, tudo dentro de uma caixinha, sempre a mão. Quando o primeiro pingo desabava, eu me jogava com o kit todo no sofá. Mas...não dava certo. Dava tempo para: ou abrir o livro, ou me enfiar embaixo do cobertor, ou abrir a embalagem do chocolate, ou colocar o chinelo. Tudo junto nem pensar, porque o sol já estava lá, a postos, amarelão que só ele, zombando da minha cara de tacho (vento sul desmancha prazer). O negócio era colocar o cd "som das chuvas", aumentar o volume, fechar a janela (e o "blackout") e... fingir.
Ahhhh seres humanos, eternos insatisfeitos. Praia e sol? Arrggghhhhhh... Comecei a sentir saudade daquela chuvinha batendo na janela, do borbulho da água escorrendo da calha, do cheiro de capim molhado, da lamentação suave das nuvens carregadas. E a trovoada reboando nos céus então? Nooooossa, fazia décadas que não ouvia.
Fala sério, você há de convir que ler um livro, jogada no sofá, ouvindo a melodia da chuva crepitando na janela, é um prazer inenarrável. Comer bolinho de banana com café bem quente, contrastando com o friozinho da chuva fina então? E namorar tendo como pano de fundo a chuvinha? Coisa de outro mundo...
Mas, como diz aquele famoso jargão: cuidado com o que deseja, pois... você pode conseguir!
E, cá estamos, em plena ilha da magia, no décimo terceiro ou quarto final de semana seguido de chuva. Durante a semana é um misto, chove, dá sol, e assim vai, se arrastando.
Ok Deus, o Senhor venceu. Sei que São Pedro administra a coisa, mas achei melhor falar direto com o "big boss". Puxa Deusinho, nós dois temos uma relação tão saudável (eu peço e o Senhor obedece... típico casamento perfeito). Lembra aquela vez que pedi para ganhar na mega sena sozinha? E quando estava na fase dos ovni´s e implorei para ser abduzida por um ET com a cara (e corpo) do George Clooney? E a oração básica para descobrirem a fórmula de um chocolate que não engorda, não dá espinha e nunca acaba? Pois é... o Senhor NUNCA me atendeu... tô achando que mereço um prêmio de consolação Papai do Céu.
Assim, nem ao céu, nem ao inferno, por favor, eu quero é equilíbrio. Não quero virar um lagarto mofado, muito menos um sapo estorricado. A fórmula é bem simples: joga Joinville e Florianópolis dentro de um tanque, bate bem, aperta, sacode e pronto... teremos a fórmula da felicidade. Sol e chuva de mãos dadas, brincando serelepes pelos nossos dias, nos brindando com sua presença de forma equânime (ieba, li essa palavra esses dias e tava louca pra usar... tava difícil enfiar a bichinha neste texto).
Entendeu? Puxa Pai, até parece que estou pedindo para criar o mundo em sete dias...
Quer saber: estou desconfiada que Deus é geminiano e São Pedro... bipolar ;-).
PS1: Janini, estou adorando seus comentários. E, respondendo sua pergunta, todos os sites em que estavam publicados os textos da Martha foram desativados.. tinha no "terra" (reproduzidos no livro "Montanha Russa") e no jornal "o globo" (reproduzidos no livro "Coisas da Vida") :-(. Atualmente, só estou acessando o Jornal Zero Hora, onde ela publica uma coluna na quarta-feira e no domingo. Beijocas!
PS2: Hoje estou na cidade da chuva... hehehe... logo, postei ontem e estou testando a tal postagem pré-datada. Vamos ver se funciona direitinho.