Aqueles dias
Se olha no espelho tentando em vão passar a cara amassada, e elege preto como a cor do dia (e não pelo quesito "sensualidade"... é pelo senso de "fatalidade" mesmo)! Não há maquiagem que disfarce o olhar assassino, que impede até mesmo os bons espíritos de chegarem perto (eu sei que o meu anjo da guarda aproveita para folgar nestes dias). Perfume escolhido para disfarçar o azedume? "Inferno Vermelho" (que é o teu destino se insistir em me encher o saco).
Pois é... hoje é um destes dias para mim!
Semana passada recebi um texto que continha, entre outras pérolas, testemunho de pessoas que afirmavam com assombrável certeza, que bom humor era uma questão de escolha. Decidi que este seria o dia ideal para testar esta premissa tentadora.
Entrei no escritório decidida a resgatar o meu sol interior (mesmo que aos meus ouvidos só chegassem os estrondos da mais temível tempestade).
Abri a porta, com aquele sorriso amarelo, dando bom dia às minhas plantas (o sorriso sumiu quando eu chutei a porcaria do vaso, que a diarista insiste em trocar de lugar sem avisar).
Abri as janelas para deixar a luz natural entrar, cinco minutos antes de cair o maior "toró" que inclusive, molhou papéis que estavam fazendo não sei o que em cima do balcão (droga! levei a sombrinha para casa ontem e fiquei com preguiça de trazer hoje...).
Mas, pensei comigo mesma: o que é um chute na unha encravada, ou uma chuva torrencial fora de temporada em plena ilha da magia? Nada suficiente para acabar com o meu bom humor fabricado, ou apagar a chama incandescente que tenta brilhar vitoriosa sobre meu mau humor (ugh!!!!!!!!! E, afinal, é "mau humor" ou "mal humor"? Sempre me dá um branco... Quer conhecer Jesus mais cedo? Experimenta deixar um comentário me corrigindo).
Atendi o primeiro telefonema do dia, com uma voz cordial e acolhedora... e é claro, era engano!
Na segunda vez, a voz já não acolhia tanto, mas, mantive a cordialidade...
Agora, na terceira vez, quando reconheci a voz esganiçada que queria por que queria reservar um quarto com cama de casal king size, mandei a cordialidade às favas e soltei as feras que moram dentro de mim (em pensamento é claro, afinal eu sou uma "lady"... mas te garanto que a anta nunca mais vai discar um número errado nesta e nas próximas vidas... para dizer a verdade, acredito que jamais vai chegar perto de um telefone novamente sem sentir um arrepio na espinha).
Mas, tudo bem... o que são pequenos contratempos ante a plenitude do universo e as eternas possibilidades que nascem a cada segundo? (nooosssssaaa... cheguei a ficar enjoada com tamanha falsidade...).
Liguei rapidamente meu computador, ávida por notícias e emails (e o Windows resolveu fazer uma atualização automática para baixar o Service "Puke" 4.99999xyz, o que significa, no mínimo, que daqui a 10 minutos vou conhecer um erro novinho em folha – beeeeemmmm atualizado! –). Qual não foi a minha surpresa em constatar NOVAMENTE problemas na conexão.
Respirei fundo... não uma... nem duas, mas pelo menos umas dez vezes, e liguei para o suporte. Quando a criatura infeliz (que havia me atendido ontem... e anteontem, em função do MESMÍSSIMO problema) perguntou se eu "já havia reinicializado o micro"... eu juro... respirei fundo novamente umas "trocentas vezes" (e me engasguei)... entoei mantra... entornei dois litros de chá de camomila concentrado... tentei aquela posição que aprendi na Yoga para "buscar meu centro"... lembrei dos ensinamentos de Chico Xavier e até Jesus Cristo pregado na cruz perdoando os pecados daqueles infelizes desfilou na minha mente. Mas, nada disso, enfim, foi capaz de segurar a enxurrada de impropérios que voaram de meus lábios com rapidez fatal e pontaria certeira. Fiz exercer, em toda sua plenitude, meus direitos de consumidora I-R-A-D-A (meus cinco anos de faculdade se pagaram nesse momento de puro deleite). E, sabe do que mais? Me senti bem melhor, depois de destilar um pouco de veneno para fora das minhas próprias presas...
Mas, estou decidida a não desistir! Preparar um café seria algo maravilhoso (se a porcaria do pó não tivesse acabado... e, está chovendo... lembra? E EU ESTOU SEM SOMBRINHA!).
Ora, tudo bem... finalmente entendi o recado! O universo elegeu este como meu dia negro, e quem sou eu para lutar contra as forças incompreensíveis que movem este planeta? Recuperei minha cara de mal (ou mau? vai... corrige... poooorrrrrrrr faaaaavooooorrrrrrrrrrrrr corrige... make my day!), joguei o texto de auto-ajuda fora, e me senti muito mais feliz (e você também vai se sentir se não cruzar no meu caminho hoje... só hoje OK? E, pelo amor de Deus... não me olha com essa cara... JÁ DISSE QUE NÃO ESTOU NA TPM!!!!!!!!!!!!!).
PS: História baseada em fatos mais do que reais. Se alguém tiver alguma dúvida, favor entrar em contato com a autora. Por favor, venha utilizando um pára-quedas... a não ser que não tenha qualquer amor a vida ou seja fã de esportes radicais (porque uma queda livre direto do décimo primeiro andar é o que vais encontrar!)