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Duas faces...

Posted by Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ Sheila Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ on 30.6.09



Embarcou no ônibus como fazia todos os dias. Procurou com os olhos a poltrona perto da janela, na última fila disponível. Sentou confortavelmente, acomodando a bolsa no colo e despertando pensamentos cotidianos. Foi arrancada de seus devaneios pelo burburinho que se instalara no recinto. Ao voltar a atenção à realidade, percebeu que estavam presos num congestionamento homérico em cima da ponte, cercados de carros por todos os lados. Buzinas, cenhos franzidos, pessoas irritadas, conversas paralelas que enveredavam para a falta de estrutura digna, e descambavam na corrupção que se instalara na política (como se os problemas do país fossem resolvidos através do verbo despido de ação). Curiosa, observou a nuvem da discórdia lançar sombra sobre o semblante dos demais passageiros, turvando todo o ambiente.
Foi quando meio sem querer olhou para o lado. A cena era hipnotizante. O céu estava imaculadamente azul. O mar parecia um tapete desenhado por mãos divinas, com nuances que passavam pelo verde e escapavam furtivamente para o violeta. Gaivotas famintas faziam rasantes e dançavam sem se importar com possíveis telespectadores. Ao longe um barco solitário balançava ao sabor do vento, dando o toque que faltava no panorama bucólico. Se tivesse o dom artístico pulsando na veia, por certo puxaria um papel e imortalizaria aquela cena merecedora de uma paleta afinada, tamanha a perfeição.
Duas visões de um mesmo ponto.
Dois mundos paralelos coexistindo no limite do confronto.
Duas faces de uma mesma moeda.
Mergulhou profundamente na mansidão daquela paisagem pitoresca, ignorando todo o resto.
Bendito seja o livre arbítrio...

Foto by Sheila Cristina Andrade Scheibel
Foto da ponte Hercílio Luz tirada dentro no ônibus trafegando na Ponte Colombo Salles/Florianópolis/SC - 06/07/2007


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Olá Sheila

Posted by Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ Sheila Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ on 21.6.09


Querida Sheila,


Hoje, 16 de maio de 1985, é uma data muito especial. Você está completando 15 anos de idade e adentrando num mundo novo. Um dos pés insiste em permanecer na infância, enquanto o outro quer pular direto para a idade adulta. Daqui a um tempo, você irá querer mesmo é curtir a adolescência perdida. Paradoxal, como grande parte de sua vida será.

Pare tudo (larga a barra de chocolate já!) e olhe ao seu redor neste momento. O que você vê? Ou melhor, quem colore a paisagem da sua existência? Parece que estou ouvindo você resmungar, no auge de sua rebeldia adolescente. Eu sei, você tem uma irmãzinha de 11 anos, que fará 12 daqui a alguns dias (sim, ela nasceu no SEU mês e ainda teve a cara de pau de vir ao mundo com olhos imaculadamente verdes). Já o seu irmãozinho completa hoje 7 aninhos (sim, ele foi mais ousado e nasceu no SEU dia).
Enfim, eu bem sei por que você chama o menino de "peste". Sim eu sei que ele "roubou" o dia do seu aniversário, e que a sua mãe foi levada à maternidade no meio da sua festinha. Mas, garota, o dia tem 24 horas, 12 para cada um não é mais que suficiente?
(helooooo, "get over it") Pois então, esse "pivete" irá crescer, e se tornar um homem maravilhoso. Mesmo sendo o caçula, saberá guiar o barco da família quando tudo o mais falhar. Você ficará orgulhosa da forma firme com que ele conduzirá a vida dele. E, de presente, ganhará mais uma irmã quando conhecer a pessoa maravilhosa que ele tomará por esposa. Por fim, irá se apaixonar pela criaturinha mais destrambelhada que existe na face da terra. Guarde seu nome: Meguie. Essa labradora espevitada trará novas cores para a nuance familiar.
Você quer saber da "chorona" de 11 anos, que fará 12 em alguns dias? Tudo bem, "peste" também (tinha me esquecido do quanto você sabe ser birrenta). Não se iluda, ela irá se tornar uma mulher forte, batalhadora, linda de corpo e alma. Estará do seu lado e lhe estenderá a mão em alguns momentos cruciais da sua vida. Você se orgulhará das escolhas e conquistas dela, sejam profissionais ou pessoais.

Sabe tudo aquilo que seus irmãos aprontam e hoje irritam você? Num futuro não muito distante, vocês recordarão destes momentos e darão grandes risadas. Sim, eu sei que você não acha a menor graça hoje. Mas os anos afinarão o seu senso de humor, e focarão seus olhos no que realmente importa. Seus irmãos se tornarão seus melhores amigos, portanto, não perca tempo afastando-os. Comece a respeitá-los desde pequenos. Eles serão essenciais na sua existência, e com eles você aprenderá grandes lições. Acredite, muitas serão às vezes em que você se inspirará em seus irmãos mais novos para tomar alguma decisão, ou consertar algum desvio de rota. Curta-os desde a mais tenra idade. Eles são tão maravilhosos em suas peculiaridades, e tão perfeitos até em suas imperfeições, que toda a eternidade será pouco para amá-los e desfrutar de suas companhias.
Dica importantíssima (pelo amor de Deus, ANOTA): quando você começar a trabalhar, e receber seu primeiro salário, compre todos os confeti´s que conseguir carregar. E dê TUDO aos seus irmãos. Não faz essa cara de pouco caso guria, me obedece que sou mais velha. DÁ TUDO PRA ELES! Aliás, faz isso por pelo menos 5 meses seguidos. Você não sabe o trauma que irá gerar nestas crianças se não fizer isso...
Outra dica: Eu sei que você e seus irmãos fazem brigadeiro escondido da sua mãe, e para ela não descobrir jogam a panela fora. Também sei que vocês procuram os chocolates que irão ganhar na Páscoa. E ainda abrem cirurgicamente a caixa de chocolate garoto, tiram os chocolates puros e deixam só os recheados. E depois colam a embalagem com esmalte incolor e colocam de volta. Sei que seus pais sempre ameaçam trocar de marca porque na caixa garoto só tem chocolates recheados. Pois então... pode continuar a fazer isso sem medo. Seus pais nunca irão descobrir e continuarão a comprar as deliciosas caixa garoto.

Não! Você não é adotada (você me sai com cada uma). Os desentendimentos que você tem com seus pais são absurdamente normais. Acredite, com o tempo e o avançar dos anos (e muita cabeçada, diga-se de passagem), você desenvolverá uma certa sabedoria, e entenderá que os seus pais são seres humanos, e, por isso mesmo, passíveis de erros e acertos, como quaisquer outras pessoas. Também eles são aprendizes no jardim de infância da vida. Eles também sofreram, também carregam traumas e desilusões, e, muitas vezes (para não dizer sempre) abdicaram de sua própria vida em prol da sua e de seus irmãos. Com o tempo você vai entender que cada pessoa tem uma forma de demonstrar amor. E que no fim das contas, o que importa não é a forma, mas, sim, o sentimento em si. Seus pais a amam, cada qual da sua maneira. Por isso, ame-os sempre, incondicionalmente. Eles são, e sempre serão, parte indissolúvel da sua vida. Um dia, você lembrará com carinho e saudade, inclusive do pacote de "filhós" que dividiu com seus irmãos, e entenderá que até mesmo as broncas e limites impostos por seus genitores contribuíram na formação da sua personalidade. Quando a maturidade aguçar seus sentidos, e você finalmente enxergar a riqueza que brota do seu cotidiano familiar, será eternamente grata a seus pais.

Seja mais paciente com suas avós. Aceite que elas são de outra época, e não precisam mudar para que você as ame. Mude você! Você não imagina a falta que elas ainda farão na sua vida, e o quanto os sagrados suspirinhos feitos pela Vó Minda, e a tangerina descascada milimetricamente pela Vó Cinda serão importantes no seu contexto de vida.
Preste atenção no que vou dizer agora: a vida impedirá que você esteja ao lado delas na hora em que partirem. A Vó Minda estará transformada pelo sofrimento, e você será compelida a afastar-se. Neste momento, esqueça o rosto contorcido que te fita e reclama e lembre-se da pessoa maravilhosa que povoou sua infância com histórias recheadas de amor, que segurava sua mão quando iam dormir, que colocava os ramalhetes de mato (que você insistia em chamar de flor) no vaso mais belo da casa, que comia seus bolinhos de lama sem se importar com a sujeira.
Não são momentos fugazes que definem uma pessoa, mas sim todo o seu conjunto de vida. Quanto a Vó Cinda, bem, você fará uma cirurgia (calma, nada para se assustar, vais tirar de letra) e mal se despedirá dela, pensando, claro, que a verá logo nos próximos dias. Pois bem, a vida tem outros planos. Ela será levada para o hospital enquanto estiveres fora, e não mais retornará para casa. Por isso, despeça-se sempre de uma pessoa como se fosse a última vez.
Diante de tudo isso que agora compartilho, só posso deixar o seguinte conselho: aproveite cada minuto de vida de suas avós, para mimá-las da mesma forma que elas a mimaram. Acredite, todos os momentos possíveis ainda serão poucos, e você irá se arrepender de cada segundo perdido.

Essas dores que você sente durante a menstruação, bem, infelizmente, você terá que conviver com ela um bom tempo. Tempo demais, arriscaria dizer. Claro, eu poderia lhe dizer exatamente o que você tem, e abreviar um bocado o sofrimento que ainda está por vir. Mas, me perdoe, não posso fazer isso. Você não compreenderá por certo minhas palavras no momento, mas toda a jornada empreendida no sentido de curar esse mal, ira lhe transformar numa pessoa mais forte, mais humana e, principalmente, mais... mulher. Mas, fica aqui pelo menos uma dica: ninguém poderá julgar o que você está sentindo melhor do que você mesma. Por isso, no dia em que um médico duvidar da sua sinceridade, não se questione nem se martirize. Mude de médico! Nunca se esqueça disso!

Faça terapia sem se preocupar com a opinião alheia. Louco é quem passa pela vida sem querer melhorar. Doido é quem tem medo de olhar para dentro. As pessoas que mais desdenham são as que mais precisam de compreensão. Muitas das batalhas que você irá enfrentar na vida serão melhor absorvidas graças ao apoio terapêutico. E nesta hora semanal ou mensal, dedique-se de corpo e alma a sua autodescoberta. Cure suas feridas. Encontre suas respostas. Quando não encontrá-las, reformule as perguntas. Cuide de você como seu mais precioso tesouro. Ninguém poderá preencher seus vazios, satisfazer seus desejos, correr atrás dos seus sonhos. Você se torna responsável por aquilo que cativa, lembra? Inclusive, e, principalmente, por você mesma! Aconteça o que acontecer, encontre na face que te fita no espelho sua melhor amiga. Aprenda com seus erros e não se julgue tanto. Seja paciente e eu lhe prometo: chegará um dia em que você se apaixonará perdidamente... por você mesma (e cá entre nós: você é meio doidinha sim, e não tem terapia no mundo que mudará isso... é o seu charme guria).

Acredite, os maiores revezes que acontecerão na sua vida se revelarão, no tempo próprio, em bênçãos (meu Deus, não estou agourando nada, sua vida não vai ser só desgraça, muita coisa boa também vai acontecer. Perde essa mania de distorcer os fatos desde cedo taurina geniosa).

Muitas vezes você verá as pessoas que mais ama enfrentando seus próprios medos, depressões e toda sorte de obstáculos. Você irá se sentir triste, frustrada, e tenderá a acompanhá-las até o fundo do poço. Controle seu impulso, pois a melhor maneira de auxiliá-las é não caindo junto. Elas precisarão de você inteira e forte para ajudá-las a sair. Você não poderá dar os passos por ninguém, mas nada a impedirá de acompanhar a caminhada, se fazer presente. Por isso, por mais que doa em seu coração o sofrimento alheio, trate de ficar bem. Só assim serás útil. Da mesma maneira que você aprendeu com seus tombos, também os outros precisarão tropeçar para conquistar a firmeza do passo. Seja uma companheira de viagem, mas não se transforme em muleta.

Sabe aquelas vezes em que você se sentiu abandonada, rejeitada e excluída? Você nunca esteve sozinha. Seu anjo da guarda é um capítulo a parte. O Ariel é realmente, de outro mundo... Você vai acertar e errar, e, às vezes, vai errar de novo... mas ele continuará do seu lado. Se quiser senti-lo, é só abrir seu coração.
Dica: passa logo pela fase de imaginar o Ariel com cabelinhos louros cacheados, batinha branca e asinhas de algodão. É humilhante para ele, e brochante para mim. No tocante a anjo da guarda você só precisa lembrar-se disso: George Clooney. Pronto! Acabou! ESQUECE o resto.

Dê o devido valor a cada um que cruzar a estrada de sua vida DURANTE o trajeto. Depois que a viagem terminar e cada um seguir seu próprio rumo, não adianta chorar. Alguns caminhos não podem jamais serem trilhados duas vezes. Por isso... esqueça um pouco o destino, e curta a companhia e a paisagem, pois, em alguns casos, não haverá segunda chance.

Pelo amor de Deus, pára de assistir tanto filme de terror, eles não acrescentarão absolutamente nada na sua vida. Quem viu um filme de vampiro viu todos... (tudo bem que estou lendo um livro de vampiros modernos, mas, vá lá, eu posso e... quer saber, vou usar agora toda a diplomacia que aprendi com muita terapia: CALA A BOCA e faz o que eu digo menina!).

Cuide de sua alimentação. Em determinado período da sua vida você irá parar de comer carne vermelha. Não perca tempo explicando para as pessoas os motivos. Você é senhora do seu corpo. Entretanto, cuide da reposição de ferro. Senão, daqui a alguns anos você terá uma bela anemia. Acredite, você não vai querer passar por essa experiência.

Tire muitas fotos, pois existem momentos únicos que jamais se repetirão. Guarde-as, como se fossem tesouros. Jogue tudo o mais fora. Mas, principalmente, viva intensamente cada um desses momentos. Assim, não fará a menor diferença quando as fotos amarelarem, porque cada pequeno detalhe estará devidamente impresso na sua memória... para sempre (poético o que escrevi não é mesmo? Só que a idade não poupa a memória, então, por via das dúvidas, tira as fotos e faz backup.. em vários lugares).

Poupe... você nunca sabe quando a maré financeira vai virar.

Cultive o hábito de escrever. Escreva para seus pais, seus irmãos, seus amigos, seu amor, e quando não tiver mais ninguém para ler suas palavras, escreva para si. No futuro, você se deliciará com suas implicâncias juvenis, e aprenderá muito com a sobriedade que cresce no seu interior através da vivência.
Dica: esqueça as senhas complicadas para os seus diários eletrônicos. Coloque senhas que sejam possíveis de ser lembradas (por favor, não se esqueça disso! Principalmente quando você ficar tentada a criar uma senha que tenha 16 dígitos. Pelo amor de Deus, o que pode estar descrito num arquivo que necessite de uma senha desta envergadura? Um assassinato? Affe... estou até hoje tentando decifrar).

Bom, "last but not least", óbvio que você quer saber da sua vida amorosa (aliás, é claro que você pulou todo o resto da carta só para ler esta parte... irritante ser previsível não é mesmo?).
Dica número um: ao invés de ficar pulando de cartomante em cartomante para descobrir o nome, endereço e cpf do seu príncipe encantando, atenda ao telefone quando aquela sua paquerinha do colégio ligar (sim, eu sei de tudo, esqueceu?). Aliás, abra uma poupança e guarde o dinheiro que seria usado com as cartomantes. Vamos ficar ricas, isso sim.
Dica número dois: pára de ficar enfiando facas na bananeira da vó no dia de Santo Antônio. Não vai aparecer as iniciais do nome do seu pretenso marido. Você só irá machucar a pobre da bananeira e estragar as facas da mãe.
Algumas pérolas sobre relacionamentos: (1) Nenhum príncipe encantado montado num cavalo branco virá salvá-la (a não ser nos romances da Janet Dailey e da Nora Roberts), e, diga-se de passagem, se por acaso vier, você corre o risco de ficar limpando bosta de cavalo o resto da vida enquanto o príncipe fica belo e formoso assistindo as safadas do BBB (nem vou perder meu tempo explicando a sigla, acredite, não vale a pena). (2) Se você beijar um sapo, ele vai continuar sendo um sapo. (3) Alguns sapos valem mais a pena do que supostos príncipes. (4) Há vida além de sapos e príncipes. Aliás, existe uma fauna inteira a ser devidamente explorada. (5) Esquece essa bobiça de tentar encontrar a metade da sua laranja. Você JÁ É uma laranja inteira (Jesus, só não vai sair por aí dizendo em voz alta "eu sou uma laranja, eu sou uma laranja", porque você vai parecer mais louca do que já é. Caramba menina, eu sei que você nem gosta muito de laranja, ESQUECE A FRUTA, presta atenção na mensagem que estou tentando passar. Affe! Que belo abacaxi...) .
Em tempo: Sabe a cartinha amor escrita pelo LF (viu, não vou revelar seus segredos aqui...) na primeira séria do primeiro grau (meu Deus, como você era precoce menina)? Não jogue fora sua boba. É a sua primeira cartinha de amor (quiça a última... não quero aqui entregar o jogo, mas o bofes de hoje em dia não gostam muito de escrever viu?) ... vai fazer falta quando você montar seu diário eletrônico...

Deixe de ficar sonhando acordada e viva...
Como diz aquele texto maravilhoso "Filtro solar" (não existe ainda no seu tempo? affe, falha minha), talvez você fique solteira, talvez não; talvez você case, talvez não; talvez você se divorcie aos 40, talvez não. O que posso dizer com certeza é que você irá se apaixonar, irá amar, e algumas vezes, as duas coisas ao mesmo tempo. Assim, quanto aos amores que irão por certo povoar sua vida, só posso dizer o seguinte: ame como se não existisse o amanhã. Deixe de se preocupar com a perfeição (ela não existe) e encare os defeitos como parte do pacote. Amores perfeitos existem somente no cinema. Na vida real, eles tem que se adaptar a problemas financeiros, tpm, dor de cabeça, rinite alérgica, vida profissional, pós-graduação e mestrado, filhos, amigos, tentações. Relaxe e você vai descobrir que tempero perfeito na vida de um casal está justamente nas suas pequenas imperfeições. Você irá perceber que será capaz de amar mais de uma vez, e cada uma delas será única. Não caia na besteira de comparar relações. Pessoas diferentes exigem posturas diferentes. Mas, vou tranquilizá-la: se eu tivesse o poder de alterar qualquer coisa no cenário de toda a sua vida, eu trocaria figurinos, falas e até enredos... mas não mudaria um só personagem. Todas as pessoas que entrarão na sua vida são muito especiais. Trate-as como tal, e o amor poderá acabar ou até mesmo transmutar... mas as pessoas, ahhh, essas permanecerão para sempre.

Pare de xingar Florianópolis, e comece a enxergar a beleza da ilha da magia. Você nunca sabe para onde o vento sul da existência poderá levá-la.

Nós duas temos uma longa caminhada pela frente juntas. Passaremos por momentos difíceis, mas teremos uma bela quota de momentos inesquecíveis. E, tudo isso servirá para que nos aproximemos cada vez mais. Juntas vamos empreender uma maravilhosa viagem de autoconhecimento. Muitas vezes, você olhará no espelho e verá a minha imagem. A recíproca será também verdadeira. Somos parte de uma mesma moeda (tá, tá, laranja, que seja... não larga o osso hein?), e mesmo assim, guardamos nossas particularidades. Prometo que estarei sempre ao seu lado. Voltarei a escrever.

Bom, até que eu resisti, mas não dá: anota aí no seu calendário de maio de 2009 (não reclama menina): "Sex and the City" completo por 5 X 39,90 na saraiva.com (não é pornografia... você vai entender no tempo certo, e evitar de gastar uma fortuna... hehehe... até parece né?).

Assinado: Sheila, hoje completando 39 anos.

PS1: Deixa de se preocupar como essa carta chegou nas suas mãos, se ela é verdadeira, se é falsa, se é fruto da sua imaginação ou foi deixada por extraterrestres (fala sério, você continua achando que não é deste planeta? Deixa de ler Stephen King). Vai viver guria, e não me decepcione. Estou na tpm e sem a menor paciência. Ass: Sheila-malvada (sim, ela sobreviveu aos anos e continua ativa e doida. Bom eu não queria deixar ela se manifestar, mas você bem sabe como ela é persuasiva né?).
PS2: A música de fundo é da banda Coldplay. Não, ela ainda não faz sucesso na sua época. Será amor a primeira "ouvida". Escolhi a música especialmente para você... presta atenção na letra... "Look at the stars, Look how they shine for you" (isso mesmo, continua investindo no inglês... o futuro te agradece e eu também... não precisaremos de legenda).

PS3: Quê? Onde estão os tremas e hífens no texto? Não, você não emburreceu com os anos, é que a gramática sofreu uma tremenda modificação. E pelo amor de Deus, eu abro aqui meu coração para você e vens me falar de trema? Affe... o próximo texto será escrito exclusivamente pela Sheila-malvada. Aguarde!

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Página em branco...

Posted by Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ Sheila Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ on 20.6.09
Não mais desviei o olhar quando a página em branco me encarou, mal disfarçando sua ânsia incontida por palavras.
Pousei carinhosamente minhas mãos sobre o teclado, e deixei que meus dedos deslizassem num ritmo próprio, tresloucado o suficiente para impedir minha mente de acompanhá-los.
Enfim, livres para dar vazão as suas próprias memórias.
Acompanhei sua dança como mera espectadora, sem planos, mapas, correções ou expectativas.
Sem a mínima idéia do conteúdo daquele texto que estava se formando, nascendo aos pouquinhos sem se importar com a minha presença.
Um sentimento familiar me invadiu, e lágrimas tímidas umedeceram meus olhos, sem entretanto rolarem pela minha face.
Era uma festa particular sem direito a testemunhas.
Reconheci de imediato a emoção do reencontro com aquela parte de mim que sempre tem o condão de colocar em verso o impronunciável, traduzir o indecifrável, relembrar o imemorável.
A parte de mim que mais sofre com minhas ausências do mundo real, com aqueles afastamentos inevitáveis, frutos de minhas visitas furtivas aos meus desertos internos.
De tempos em tempos sou abraçada por longo período do silêncio, encharcado de significado. Um silêncio morno, envolvente e enriquecedor. Um silêncio que jamais me deixa só ou permite que a tristeza se acomode. Muito pelo contrário. É o momento de calmaria que sempre se instala depois de alguma devastação causada por tempestades que a experiência impõe ao longo da jornada.
Muito lutei contra essa introspecção. Hoje, aos poucos, aprendo a respeitar minhas estações. Curtir meus verões, respeitar meus invernos, amar minhas primaveras, e, sobretudo, aceitar a poda dos meus outonos. Talvez esteja, enfim, amadurecendo.
Apesar do descanso reparador vital para meu bem-estar, é muito bom sentir novamente aquele rebuliço de palavras ecoando pela mente, tentando fugir por todos os poros, se digladiando entre verbos, adjetivos e substantivos, e explodindo em gozo diante da frase perfeita.
A modernidade nos atropela e nossa atenção é quase que instintivamente atraída para fora.
Diante de nossa relutância em cuidar dos jardins da alma, a própria vida se encarrega de frear.
É quando chocamos de frente com algum obstáculo que nos desfragmenta, nos reduz a meros caquinhos espalhados pela calçada da existência.
Só assim paramos, e somos forçados a prestar atenção a cada ínfima parte de nós. No intuito de restaurar o mais rápido possível o movimento, nos focamos no estrago causado pela nossa falta de atenção. E assim, jogamos fora o que não mais nos pertence, colamos pedaços desiludidos, lustramos lascas empoeiradas pelo esquecimento, olhamos a mesma imagem por diversos ângulos, até que finalmente enxergamos a sua verdadeira face.
Apesar de todo o crescimento que esses momentos nos trazem,
é sempre muito bom estar de volta,
plenamente
... inteira!

"A gente cresce sempre, sem saber para onde"
(João Guimarães Rosa)

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